Se para estudantes de mestrado concluir a dissertação é como “parir” um filho, então, a qualificação poderia ser considerada um momento especial dessa gestação, como um importante exame de ultrassonografia, por exemplo.
Nos programas de pós-graduação da UFPA e da maioria das universidades brasileiras, a qualificação nos cursos de mestrado e doutorado é obrigatória. É o momento no qual o aluno apresenta os resultados parciais de sua pesquisa e uma banca, composta pelo orientador e por outros professores que atuem direta ou indiretamente na área pesquisada, irão dar as suas contribuições para a conclusão do trabalho ou, ainda, poderão reprovar o pós-graduando, que terá um prazo para realizar um novo exame.
Cumprindo os requisitos de obrigatoriedade do Exame de Qualificação, o Programa de Pós-Graduação em Estudos Antrópicos na Amazônia (PPGEAA), vinculado ao Campus da UFPA em Castanhal, realizou, na última sexta (07/12), a primeira qualificação pública de sua história.
Criado em 2016 e com a primeira turma de mestrado iniciando suas atividades em 2017, o PPGEAA é o primeiro Programa de Pós-Graduação interdisciplinar do Campus da UFPA em Castanhal e, por isso, todas as pesquisas desenvolvidas pelos mestrandos estabelecem relações com duas ou mais áreas de conhecimento.
“Raiva humana transmitida por morcegos: o que sabe e como se informa a população de Curuçá, um município da Amazônia brasileira” foi o título do trabalho apresentado pela jornalista Etiene Andrade, que fez a primeira qualificação do PPGEAA aberta ao público.
O vice-coordenador do Programa, professor Marcos Seruffo, que participou da banca de qualificação, explicou o caráter interdisciplinar da pesquisa.
“O trabalho da Etiene agrega três grandes áreas: primeiro a parte comunicacional, segundo ele transpassa pela parte da computação e a parte da Medicina Veterinária, que é a terceira área. Então, a partir da junção dessas três áreas a gente consegue ter tem um mapa das informações da população de Curuçá sobre a raiva.”
Etiene Andrade deu mais detalhes sobre o seu trabalho, destacando o que a motivou a iniciar a pesquisa.
“Um trabalho anterior ao meu, realizado no EpiGeo (Laboratório de Epidemiologia e Geoprocessamento), do qual eu faço parte, havia mostrado que muitas pessoas no município de Curuçá haviam sofrido agressões por morcegos. Como o laboratório trabalha com essa questão da doença, da raiva e como eu sou jornalista, nós resolvemos fazer uma pesquisa para saber de que forma essa população se informa e porque essa população é tão vulnerável a esse tipo de agressão”, pontuou a pesquisadora, que também falou sobre os possíveis desdobramentos da sua investigação.
“O trabalho conseguiu identificar os principais meios de informação e nós conseguimos, também, perceber que essa população sabe muito pouco sobre a raiva. Essas informações não têm chegado adequadamente. Então, com essa avaliação que fizemos, pretendemos, a partir desses dados, propor ações que possam ser mais efetivas para gerar um comportamento preventivo nessa população que vem sendo agredida, mas que não procura ajuda médica, que não tem os cuidados necessários com o ferimento dessa agressão feita pelo morcego, e que não sabe que a agressão por morcego pode causar a raiva”, concluiu.
E não é somente a população de Curuçá, no Pará, que não tem acesso a informações corretas e claras sobre a doença. De acordo com a orientadora da dissertação da jornalista Etiene Andrade, a professora Isis Abel Bezerra, mesmo com um surto de raiva humana, ocorrido no Brasil nos anos de 2004 e 2005, muita gente desconhece o assunto.
“Há cinco anos, uma profissional da área de Vigilância em Saúde de um município da região do Salgado me procurou para fazer o mestrado. Ela me contou que via que muitas pessoas eram agredidas por morcego naquele município, São João da Ponta, e que não buscavam um atendimento. Nós ficamos preocupados com a situação, de que essas agressões são banalizadas pela população e começamos a investigação”, relatou a professora, que orienta diversos trabalhos, que procuram pesquisar, sob diferentes enfoques, a questão da raiva humana transmitida por morcegos.
“Acabamos descobrindo que, na verdade, as pessoas eram agredidas também em outros municípios, essencialmente em Curuçá, na área da reserva extrativista. Isso está gerando todos esses trabalhos. Nós estamos investigando diferentes aspectos para tentar resolver esse problema da falta de informação, da falta de prevenção”, finalizou a professora Isis Abel Bezerra.
Seleção 2019 do PPGEAA – A seleção para turma de mestrado 2019 está em andamento. No início do mês foi divulgado o resultado da prova escrita. Os candidatos podem acompanhar todas as etapas no site http://www.ppgeaa.propesp.ufpa.br.
Texto e foto: Paula Lopes – Ascom UFPA/Castanhal