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Faculdade de Pedagogia divulga carta aberta à comunidade acadêmica

CARTA ABERTA À COMUNIDADE ACADÊMICA DA UFPA/CASTANHAL EM PARTICULAR AOS ALUNOS DA FACULDADE DE PEDAGOGIA

Queridas e queridos discentes, docentes, técnicos e demais participantes da comunidade acadêmica da UFPA/Castanhal,

Em 2020, o inusitado rondou as nossas casas, as nossas ruas, as nossas escolas e os nossos quintais de emoções. Fomos todos vítimas da Covid 19, das crianças aos idosos. Entramos numa crise sanitária global e planetária sem precedentes. Tivemos, por isso, que desatar os nós de cada um de nós. Medos, incertezas, flertes com a morte, desencadeamentos de sintomas neuróticos, como, por exemplo, as fobias sociais, as crises de ansiedade e até a depressão da simples a mais aguda.

Também tivemos perdas que jamais sonhávamos que viessem acontecer neste momento. Perdemos amigos, vizinhos, entes queridos e tantos outros que, de algum modo, passaram por nossas trajetórias de vidas. Podemos dizer que o trágico grego se fez presente em nós humanos, demasiadamente humanos, levando-nos a ter que desfazer e desatar os nós de nossos planejamentos, que pareciam tão bem elaborados, tão insubstituíveis, tão certeiros. Com a pandemia da Covid 19 tudo se fez tão frágil, incerto, até o presente momento. Porém, estamos voltando aos poucos ao novo normal, embora não seja comum, esse conceito abstrato se faz concreto pensado por dentro de uma lógica societária que tem rosto, nome, interesses, daqueles que exercem formas de poder desumanos sobre os corpos da humanidade, dos rios, das florestas e de toda biodiversidade.

Estamos aprendendo juntos a nos reinventar; ainda meios desconfiados, procurando acolher da melhor forma possível a criança que vive dentro de nós assustada, assombrada, diante destes tempos de tantas vítimas, de tantas dores e necrofilia. Estamos querendo dar equilíbrio ao absoluto frágil de nós que se desmanchou durante a liquidez da pandemia, que nos furtou por alguns longos instantes, o que Drummond diria: “a vida presente, o tempo presente, os homens presentes”. Estamos querendo encontrar nossa energia pulsional para abrir a porta, a casa, a coragem e os entusiasmos, para irmos aonde sempre íamos alimentar os nossos círculos de afetos e resgatar nossas memórias afetivas por entre os quintais e os desertos germinais de cada um.

Nós, comunidade acadêmica da UFPA/Castanhal e, de modo especial da Faculdade de Pedagogia, estamos voltando ao trabalho, ao ambiente de interação e interlocução com os saberes, com as pesquisas, com os diálogos pertinentes, com o mundo das letras, buscando aperfeiçoar o aprendizado das leituras de mundo que pulsa em nós. E, ainda que seja remotamente, não seremos intransigentes e desatenciosos, pois o que tentaremos fazer nestes tempos sombrios, será dar o melhor de nós, porque temos consciência da força beligerante presente na educação que transforma vidas. Por isso, professores, alunos, equipe de apoio, técnicos e todas e todos que fazem o ambiente acadêmico, vamos nos acolher, para que a capacidade criativa e crítica que emana da força potência do aprender-ensinar, como princípio pedagógico que liberta, seja e esteja cada vez melhor neste nosso memorável e histórico retorno.

Estamos retornando, então, neste 14 de setembro de 2020, e é preciso termos paciência uns com os outros, compreensão de que o novo demora a ser assimilado em sua totalidade, principalmente tendo aulas, diálogos, abraços, beijos, divergências e convergências de ideias, de comportamentos e de atitudes majoritariamente virtuais. Quem sabe assim, possamos entender em partilhas de afeto e comunhão que fazer a nossa segurança, nosso auto-governo descentrado sejam bem mais interessantes, já que os governos, os mercados e as medidas protetivas do Estado são frágeis, porque não lhes é de bom grado a ideia de que vida de pessoas importam.

Estamos certos de que nada será fácil, porém temos a consciência de que não reagir, será bem pior. Por isso, vamos voltar às aulas, movimentar o ambiente acadêmico, contudo, voltemos com responsabilidade, com entusiasmo e com a dedicação devida para o novo aprender a escutar, o novo aprender a ensinar, o novo ressignificar as trajetórias de nossas vidas, para uma das coisas que mais amamos, do nascer ao pôr do sol: que é, sem sombra de dúvidas, partilhar o que sabemos, mesmo nas horas mais difíceis. É preciso estarmos atentos para entoar com alegria e criatividade este momento novo. Se já avaliamos que chegou a hora de voltarmos às aulas, façamos, como seres de morte, prevalecer a vida, já que não há dúvidas em nós de que vidas importam hoje e sempre.

Abraços fraternos, de todos e todas conselheiras e conselheiros da Faculdade de Pedagogia da UFPA/Campus Castanhal.