A Universidade Federal do Pará (UFPA) está à frente de pesquisas que buscam identificar as linhagens circulantes do novo coronavírus (SARS-COV-2) presentes no estado e no país. Os estudos vêm sendo realizados pelo Grupo do Laboratório de Genética Humana e Médica, tendo como coordenadora a professora Ândrea Ribeiro-dos-Santos, da Faculdade de Biomedicina, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFPA). Inclusive, foi feita pela UFPA a análise inicial de 80 amostras, das quais oito (10%) foram identificadas, na última sexta-feira, 5 de fevereiro, com a nova variante brasileira do coronavírus, proveniente do Amazonas.
A identificação desta variante faz parte de dois projetos que a professora do ICB coordena atualmente, com pesquisas sobre a Covid-19 no estado. Um deles tem parceria com o governo do Pará, com financiamento da Fapespa, por meio do qual foi constituída uma rede com outras instituições, como o Instituto Evandro Chagas, a Secretaria Estadual de Saúde (Sespa) e o Laboratório Central (Lacen), para entender se existem variações/mutações presentes no material genético (DNA) do hospedeiro humano que podem explicar o quadro de maior agravamento de alguns pacientes que contraem Covid-19.
“Por que algumas pessoas apresentam quadro mais grave do que outras? Isso se deve também às mutações que estão presentes nesses indivíduos que têm maior suscetibilidade de contraírem o vírus ou não?”, questiona a professora Ândrea Ribeiro-dos-Santos.
O outro projeto é realizado em parceria com o ITV, a Fiocruz, a UFRN, o Lacen e a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), entre outras instituições, e tem como objetivo principal investigar as linhagens circulantes, principalmente no estado do Pará. “É importante entender as linhagens virais, uma vez que elas também podem fazer parte de um quadro de maior agravamento desses indivíduos, que chegam a se internar com crises de falta de ar, a seguir para a UTI, e, algumas vezes, com desfecho em óbito, ou seja, este agravamento pode estar relacionado não apenas com a suscetibilidade do paciente mas também com a existência de linhagens mais transmissíveis ou mais graves”.
Sequenciamento genético – A nova cepa foi identificada com uma metodologia de Sequenciamento de Nova Geração (NGS), que realiza o sequenciamento do genoma, uma tecnologia extremamente moderna, também disponível na UFPA. “O grupo de pesquisadores que fazem parte da Genética e Biologia Molecular da UFPA representa muito bem o Brasil e o Pará nessa área. Por meio dessa tecnologia, identificam-se todas as bases nucleotídicas que constituem o genoma desse vírus”, explica a professora Ândrea.
Sobre a letalidade da nova linhagem do coronavírus identificada, a pesquisadora afirma ainda não ser possível afirmar cientificamente que seja mais letal. “Como tudo é muito novo, não tem como afirmar se algumas observações que são vistas, por exemplo, o que está acontecendo com a população de Manaus, são consequências de uma maior letalidade. O que podemos dizer, apenas, é que essa nova linhagem, que chamamos de “variante de atenção P.1”, que aconteceu em Manaus, é uma variante importante, à semelhança de outras duas que são de maior transmissibilidade e estão presentes no Reino Unido e na África do Sul, todas essas três variantes de atenção apresentam um elevado poder de transmissão”, destaca.
“Vamos ter que aguardar mais resultados de pesquisas, porque se você parar para imaginar que o sistema de saúde, em 2020, sem ter uma variante mais transmissível, já colapsou, espera-se uma maior gravidade na saúde, considerando este novo cenário, em que existe uma variante com poder de transmissão muito maior. Pode ser que o aumento da letalidade possa estar também relacionado a isto, ou seja ao conjunto de situações, e não signifique que a variante P.1 seja necessariamente mais letal. Aparentemente, ela é mais grave, mas ainda é muito cedo para afirmar se é mais letal”, complementa.
Cuidados permanecem – Segundo a professora, em relação à nova variante, a prevenção continua com todas as medidas que já vêm sendo tomadas desde o início da pandemia: evitar aglomeração, manter o distanciamento social e usar máscara em qualquer situação, higienizar as mãos com água e sabão ou álcool 70%. “Além desses cuidados, temos um importante aliado, que é a vacina. Para que a imunização pela vacina aconteça da melhor forma, precisamos proteger a própria vacina evitando o aparecimento de novas variantes. Toda vez que evitamos aglomerações, realizamos o distanciamento e, quando necessário, nos isolamos, entre outras atitudes, estamos diminuindo a chance de o coronavírus se replicar e mutar, consequentemente estamos ajudando a imunizar aquela população. Portanto, é preciso realmente tomar para si o compromisso de se prevenir por si e por todas as pessoas da população”.
“A Universidade está dando uma contribuição muito importante principalmente para o estado do Pará, porque tem conciliado todas essas medidas e dado condição para que, mesmo com dificuldades, continuemos fazendo testes de diagnóstico em grupos de pessoas que trabalhem em setores essenciais. Testar assintomáticos também é importante porque aí se quebra a cadeia de transmissão pela falta de conhecimento a esse respeito”, conclui a docente.
Texto: Jéssica Souza – Assessoria de Comunicação da UFPA
Arte: Reprodução SUS